A CES é o evento mais importante nos EUA e talvez no mundo para o mercado de eletrônicos. Na Europa existe ainda a CeBIT, mas em impacto e importância para fabricantes, a CES ainda reina de maneira inquestionável. Sempre acompanho pela internet e a cobertura melhora significativamente com mais informações e parece que a gente está lá.
Já pensei muito sobre o que seria melhor para acompanhar este evento, mas como as novidades costumam demorar para chegar ao mercado até mesmo nos EUA, experimentar e ver novidades sem poder interagir livremente ou ter visibilidade de preço e disponibilidade no Brasil é altamente frustrante e contra produtivo.
As vezes acontece do produto ou serviço mudar de geração e evoluir antes de chegar ao Brasil, então, com isto em vista, ver através da internet é muito mais barato, prático e menos cansativo. A CES é enorme e ocupa um espaço gigantesco. Se deslocar pelo espaço do evento e disputar espaço com as milhares de pessoas que buscam as novidades da feira é estressante.
Como as novidades são muitas, o melhor é acompanhar um apanhado resumido das tendências e não produto-a-produto. O meu resumo segue abaixo.
Televisores
Se nos anos anteriores o 3D roubava a cena, o que me atraiu e acho muito interessante, apesar de pouco prático por conta da necessidade de uso de óculos, este ano ninguém exaltava a capacidade dos equipamentos em mostrar imagens com efeitos tridimensionais. Nem mesmo telas 3D sem necessidade de óculos foram apresentados com o destaque dos anos anteriores.
As “buzzwords” do momento são: 4k, quantum dot e OLED. Alguns fabricantes até mostraram televisores com resoluções ainda maiores que 4k, mas não existem ainda fontes de video suficientes para justificar o investimento neste tipo de equipamento. Apenas para lembrar, nem mesmo na TV por Assinatura os canais em HD são maioria, então pra que um equipamento 4k? Talvez apenas para usar com o videogame.
Para você entender melhor. 4k é uma referencia a resolução que a tela é capaz de exibir. Hoje a maioria dos televisores é capaz de exibir imagens em 1920×1080, também conhecido como FullHD. 4k é conhecido como UHDTV com resolução de 3840×2160. Vale a pena ainda exaltar que não é só da tela que a resolução da imagem depende. É preciso um processador capaz de endereçar tanta informação na velocidade de exibição, o que torna a eletrônica ainda mais sensível a pequenas falhas eletro-eletrônicas.
A maioria dos fabricantes mostrou e anunciou equipamentos 4k e que estão mais em conta do que nos anos anteriores. Associado ao aumento de resolução, alguns fabricantes também começaram a falar de “quantum dot”. O nome é muito mais impressionante do que seu resultado. Você só vai notar a existência deste recurso se colocar dois equipamentos lado a lado. Um com o recurso e outro sem mostrando exatamente a mesma imagem.
O que é o “quantum dot“? É uma maneira de usar o backlight de maneira mais inteligente. Se no passado o lance era sair do edgelid para o directlid para melhorar o nível de preto, agora o lance é aplicar filtros de cores usando cristais especiais e portanto, eliminando filtros após o LCD, aumentando fidelidade de cores e oferecendo mais brilho.
Ainda que não seja uma técnica nova, a tecnologia ganhou espaço para justificar a troca do televisor que você tem em casa por um novo.
Ainda no ramo dos televisores, a parte smart deles parece que finalmente ficou mais inteligente, mas só parece mesmo. Cada fabricante desenvolveu no passado uma plataforma smart para seus televisores. Processadores são fracos e a capacidade computacional igualmente ruim. A interface para interagir com o sistema não é a ideal e por conta disto, todos que tem televisor smart, prefere usar o iPad conectado ao televisor do que usar apps diretamente no televisor, salvo o uso do Netflix em casos bem pontuais.
Dado o sucesso dos apps e suas respectivas lojas no mundo mobile, os fabricantes começam a se engraçar neste mundo evoluindo suas plataformas. Existem hoje três frentes incompatíveis entre si, o que é a parte burra dos televisores smart.
A Samsung acha que o Tizen, uma releitura do Android para seus dispositivos, vai pegar. Uma clara imitação do que a Apple fez com o Apple TV e iOS. Já a LG, colocou o webOS (antigo PalmOS) que ela comprou da HP, para ter foco mais na internet das coisas, onde na visão dela, o televisor será o hub de todos os dispositivos da casa e por fim, existem os demais fabricantes que resolveram adotar o Android TV, a segunda ou terceira tentativa da Google de lançar um sistema para consumo de vídeo. Quem lembra do Google TV? Ninguém, pois falhou miseravelmente.
Ficou de fora desta jogada o Apple TV, mas se você não conhece a CES, é normal achar isto estranho. A Apple não se mistura e faz seus próprios eventos. Comparando o Apple TV com estes novos televisores smart, ainda acho que o desenho antigo de set top box é o melhor. É muito mais provável e barato mudar apenas o set top box do que o televisor inteiro. Principalmente por conta da velocidade que os processadores evoluem.
Talvez a Apple use a experiência do CarPlay para criar um TVPlay, mesclando imagens da TV com dados do iPad/iPhone conectado à internet no próprio televisor. Revolucionando assim o uso da segunda tela em conjunto com o conteúdo linear típico da TV.
Por fim, existe ainda televisores com OLED. O grande barato do OLED comparado com o LED é que ele não requer uma fonte de luz traseira. Ou seja, nada de backlight para o OLED. Ele tem brilho próprio e tem desgaste como os antigos televisores de tubo e os de plasma. Por conta deste brilho próprio, suas imagens tem contraste, brilho e maior fidelidade de cores, novamente, comparado ao LED.
Seu custo de produção ainda é mais caro e tem grandes restrições de tamanho e escala de produção. O único segmento no qual ele ainda é uma alternativa em conta é em smartphones. Dispositivos highend da linha Android tem AMOLED, que é um tipo de OLED.
Esta tecnologia ganhou porém em tamanho e tem preços menores e deve ganhar espaço no futuro.
Assunto bônus: Telas curvas. Eu realmente não entendo qual o grande barato de ter uma tela curva. Nunca eu reclamei que uma tela plana fosse um problema. Alias, televisores de tubo eram curvos e todo mundo achava ruim, por interferir na qualidade da tela. Agora, só por que a curvatura mudou de convexo para côncavo, todo mundo faz “ohhhhh!!!”. TNC.
Li recente que os televisores curvos não serão a grande sensação, mas monitores de computadores curvos sim. Existe até mesmo um smartphone, se eu não me engano, da LG que tem tela curva. Pelo insucesso de vendas, deve ser muito prático. A verificar.
Ah sim, no ramo dos monitores para computador, o grande desejo do momento são os monitores de 5k. História similar aos televisores de 4k. O ponto de atenção neste caso é saber se a placa de vídeo do seu computador é capaz de produzir a resolução do monitor. Se não for, não vale a pena o investimento neste modelo de monitor.
“Vestíveis”
Mais e mais fabricantes oferecem pedômetros, sistemas de analise de sono, analise de dados biométricos e relógios que fazem conexão com o smartphone para você poder reclamar que a bateria acabou.
Dentro os existentes acho o Moto 360 um dos mais bonitos, ainda que seja gordo, caro e limitado. O Apple Watch deve vir ainda no primeiro trimestre e ainda que tenha design quadrado, parece elegante e com mais chance de ser útil do que os demais relógios. Tudo por conta do ecossistema e maneira de interagir.
A LG também tem um smartwatch bem bonito e que roda o webOS ainda que seja grande para pessoas “pele-osso” como eu. Outra coisa chata é que este smartwatch pode chegar somente em 2016 ao mercado.
O grande ponto é que não vi ainda um fabricante que tenha explorado o segmento de forma a deixar claro que o equipamento é indispensável. Hoje os relógios são apenas uma forma alternativa ao uso do smartphone, e de maneira muito limitada. Claro que é maneira ligar o carro através do relógio, as ninguém preciso disto. Hoje os relógios inteligentes nada mais são do que pequenas telas para manter o celular no seu bolso por mais tempo.
Gostaria de ver o relógio servindo para destravar a porta do carro ou abrir a porta do hotel. Quem sabe até mesmo ser usado para desbloquear o celular ou o computador. Tudo bem que este ultimo já é possível através de soluções criadas por desenvolvedores pequenos, mas o que eu quero mesmo é ver o Windows permitir o seu destravamento com o relógio. (tem uma discussão sobre segurança que vale aqui, mas ignoro isto momentaneamente)
Mais um parêntesis: Você pode ter notado uma contradição nos meus parágrafos anteriores. Falei que ligar o carro com relógio é maneira, mas ninguém precisa e depois disse falei sobre destravar o carro. A diferença entre os dois é que para o primeiro, você acessa o relógio, aciona o aplicativo, digita uma senha após acionar a função de ligar o carro. Totalmente ruim do ponto de vista de praticidade e experiência do usuário.
No segundo exemplo, destravar a porta do carro, imagino e defendo uso similar aos de chaves inteligentes que funcionam por proximidade e apenas precisam da chave no interior do carro também para ligar o carro. Troque a chave por relógio e pronto, um uso indispensável do relógio.
Drones
É o que todo mundo quer e ninguém precisa. Drones são realmente a revolução do momento. É algo que não existia, trouxe uma grande novidade principalmente para profissionais de ramo de vídeo e são o segmento que mais evolui.
Criaram até mesmo um drone para tirar selfies. Não que isto seja importante ou necessário, mas é legal.
Os drones ficaram mais inteligentes e ficarão ainda mais. Automação e capacidade de voar sozinhos são os grande destaques. Hoje ainda não é possível, mas nos próximos dois anos drones serão capazes de voar sozinhos e desviar de obstáculos com maestria. Hoje eles são apenas capazes de seguir alvos ou reproduzir caminhos desenhados ou copiados de execuções anteriores.
O que eu acho mais curioso é que o uso de drones, seja aqui no Brasil ou nos EUA, é restrito e requer autorização especial das devidas agencias de aviação. Ainda que ache tempo de bateria e nível de ruído seja ainda grande fatores com pouco avanço, neste momento estes não são fatores a serem explorados. A capacidade computacional e interpretação de sensores é muito mais importante e fatores que fazem um equipamento ser muito melhor do que outro.
Automação residencial
Esta é minha aposta para a revolução digital. Uma quantidade enorme de equipamentos controlados através de sua rede local e com sensores vão estar disponíveis e ao invés de segmentados controlados apenas por seus próprios apps, eles poderão ser controlados através de sistemas integrados.
Hoje ainda há uma dezena de apis diferentes, mas a promessa é que o HomeKit da Apple e o futuro kit da Google (baseado no NEST) sejam as duas apis principais e mais usadas. O controle será universal e através destes sensores e dispositivos será possível automatizar uma série de coisas. Inclusive ligar o ar condicionado antes de você entrar em casa.
Netarmo, Amazon, NEST são apenas alguns fabricantes que já oferecem equipamentos de automação ou sensores residenciais. Belkin, GE, Phillips são mais três e a lista não termina aqui. Só minha memória fraca mesmo. 😉
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